segunda-feira, 15 de setembro de 2008

As Origens da Tradição Druídica Primordial


As Origens da Tradição Druídica Primordial

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Por Leonardo de Albuquerque
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Quando nós estudamos as Fontes Tradicionais do Druidismo Céltico,percebemos que existiam dezenas de Denominações diferentes para os Druidas,suas funções e especializações sacerdotais.

Mas,na verdade,a Palavra “Druida” não era,absolutamente,a única palavra utilizada para designar os Homens-de-Saber das Tribos Celtas,nem o “Druidismo” era visto como a única forma de expressão da Sabedoria Xamânica Céltica.

Existiam várias Correntes de Xamanismo e de Feitiçaria Não-druídica dentro do Paganismo Céltico,que conviviam em harmonia com o Druidismo e eram influenciadas por ele,mas não seguiam exatamente as suas Normas Sacerdotais.


Em Gales,os Druidas chamavam-se de Derwydd,uma antiqüíssima palavra címrica conectada com o vocábulo Derw(“Carvalho”),provinda do Proto-indo-europeu Dóru-(“Árvore”) e Drûs-(“Sólido-forte-poderoso”),raízes que deram origem à diversos Conceitos Sacrais e Sacerdotais nas línguas Européias.

No Celta Antigo,por exemplo,existiam as designações Wissetor Darikos(“Vidente dos Carvalhos”)e Wisso-Druzdos (“Videntes Fortes”),que foram vocalizadas mais tarde no Gaulês como Druvídos ou Druveledos.

Druvídos era a palavra Gaulesa que foi latinizada pelos Invasores Romanos,originando o vocábulo “Druida” no Latim e “Druidae” no Grego.

Nos Dialetos Gaélicos,por sua vez,a raiz Drûs- foi vocalizada como Dra-,originando as palavras Draoi(“Druida”)e Draíocht (“Magia”,”Bruxaria Pagã”)no Irlandês Moderno.




Apesar disso,durante toda a Evolução histórica dos Povos Celtas,existiram vários outros vocábulos,que não originaram-se na Raiz Drûs- e que também eram utilizados para designar os Xamãs e Feiticeiros Tradicionais,suas Práticas,Saberes e Ofícios.

Nesta Série de Artigos,iremos analisar alguns destes vocábulos,suas origens linguísticas e seus múltiplos Significados dentro da Bruxaria Céltica Medieval.

1- Vocábulos provindos do Galês Antigo
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No País de Gales existiam vários Títulos para designar os Feiticeiros Tribais e os seguidores das Tradições Druídicas remanescentes,que sobreviveram principalmente nas Zonas Camponesas ao redor da Gwynvryn,”a Montanha Branca”,nome dado para as Montanhas Snowdon do Norte de Gales.

Segundo as Lendas locais,a Região da Snowdonia é um grande CENTRO DRUÍDICO PRIMORDIAL de Forças Mágicas,onde foi enterrada a Cabeça de Bran (de acordo com o Texto do Mabinogion);e onde ela ficará para proteger a Inglaterra até o Retorno de Arthur e o Renascimento dos Deuses Antigos.

Por incrível que pareça,muitos destes Vocábulos identificativos foram plagiados pela Igreja Católica Medieval para designar os Santos,Apóstolos e Patriarcas do Cristianismo,o que confundiu muitos historiadores do Séc.XIX.

Na luta escarniçada contra o Paganismo e as Crenças Druídicas,a Igreja utilizava a tática da mimetização,assumindo os títulos sacerdotais dos Bruxos Tradicionais e dos CUNNING-MAN das Aldeias para conquistar a confiança dos Camponeses e distorcer as Memórias Raciais sobre a Antiga Religião Pagã.

2- Adnabydwyr – “Conhecedor”,”Sábio” ----
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Era o Título Címrico dado para todos os Homens-de-Saber que viviam nas Montanhas do Norte,e que era usado indistintamente tanto pelos Derwyddon como por Feiticeiros Solitários Não-vinculados às Tradições Druídicas remanescentes.

Hoje,o termo ainda é utilizado pelos Bruxos das Linhagens Hereditárias Nativas,para se diferenciarem dos Neo-Druidas Ingleses dos séculos XVIII,XIX e XX.

A- Etimologia:

“Adnabydwyr” proveio da palavra Galesa Adnabod --- “Conhecer”--- originada no Vocábulo Proto-Celta Ad-Gna-Bhû --- “Conhecer a Existência” ou “Conhecer sobre as coisas existentes”--- um antigo Conceito referente à capacidade do Homem de compreender a Existencialidade Vital dos Seres na Natureza.

A Palavra Ad-Gna-(“Conhecer”) é uma derivação do Proto-indo-europeu Gna- ou Gno-(“Saber”,”Conhecer”), que deu origem mais tarde aos vocábulos Gnosis e Gnostikoi no Grego;Cognoscentis no Latim;Eagna e Eagnóir no Irlandês; Atignosios no Gaulês;e obviamente, "Conhecimento" no Português.

Isto quer dizer que Adnabydwyr é um sinônimo perfeito de “Gnóstico” e os Bruxos Tradicionais Galeses estavam totalmente conscientes dos Significados mais amplos e profundos desta palavra,que expressava o Arquétipo Europeu Universal do “Homem Sábio”,”O Conhecedor”,”Aquele dotado do Conhecimento Superior”.

Como prova desta identificação com a idéia universal da Gnosis,os Bruxos Galeses denominavam as suas Práticas e Saberes de Adnabyddiaeth (“O Conhecimento”), expressando a idéia de que a Bruxaria era uma Ciência Elevada e Perfeita,baseada na Investigação Clarividente da Natureza e do Cosmos,e não uma simples especulação ou crença pessoal limitada por Dogmas.

B- História do uso do Conceito ADNABYDWYR na Inglaterra -
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Na Época da Dominação Romana da Inglaterra(50-410 D.C.),os Feiticeiros Tradicionais traduziam a sua Sabedoria Adnabódica como "Cognoscentia" para os Sacerdotes Flâmines que atuavam nos Templos da Britânia;e utilizavam também, frequentente, a palavra Grega "Gnosis" para identificarem-se para os Filósofos Helenísticos de sua Época.

Os Feiticeiros Tradicionais procuravam, conscientemente, mostrar para o Sacerdócio Romano ligado à Administração da BRITANNIA Romanizada que também possuíam uma vasta Sabedoria Ancestral e um Sacerdócio multimilenar digno,nobre e honrado.

A Identificação da Sabedoria Céltica como "Gnosis" foi uma das principais razões para a adoção das Correntes Heréticas do Gnosticismo Greco-cristão (Valentinianas, Arianas, Priscilianistas e Nestorianas) dentro da Igreja Primitiva Galesa dos KULDEUS,que perduraram até a Conquista Normanda.

A Igreja Celta era,essencialmente Anti-vaticanista,Anti-romana e Pró-Gnóstica em seus Ensinos Teológicos e em seus Rituais,até ser cooptada,à partir do Século XI, pela força das armas Normandas para submeter-se à Autoridade de influência do Vaticano.

Depois das Invasões Saxônicas(450-550 D.C.),os Bruxos Galeses adotaram o termo Saxônico Cnõuleche (“Conhecimento”) para explicarem a sua Sabedoria Nativa aos Sacerdotes Wittan e aos Nobres da Monarquia Saxã,que agora eram os novos soberanos do Território Britânico.

E,para se comunicarem com os seus vizinhos Gaélicos do Norte da Escócia e da Irlanda,utilizavam o termo Eagna ou Aithgne ("Sabedoria")para definir os seus Saberes Ancestrais Celtas.

Durante toda a Idade Média,mesmo sendo reprimidos pela Intolerância da Inquisição e da Igreja Anglicana, os Bruxos Tradicionais Galeses jamais renunciaram ao seu honroso título de Adnabydwyr(que ostentam até hoje),que revelava a sua condição de Filósofos e Buscadores da Verdade.

Identificar-se como um “Conhecedor” dentro da Ignorância Intelectual da Idade Média (quando a grande maioria da população era analfabeta)era revelar a sua alta posição Filosófica provinda da SABEDORIA PAGÃ ARCANA,Ancestral e Pré-cristã,ligada à grande corrente da Phillosophia Perennis que reunia Druidas, Hermetistas, Manicheus,Neoplatonistas,Pitagóricos,Sufistas,Cátaros e Alquimistas numa mesma Comunhão de Origens,Ideais e Princípios.


E ,é importante notarmos,todos estes Magos Pagãos da Idade Média chamavam-se a si mesmos de “Gnósticos” utilizando uma mesma Raiz Indo-européia (Gno-"Saber","Conhecer"))e um mesmo Significado Central,que expressava a mesma Idéia:

O Conceito Pan-europeu dos “Homens-de-Saber”,possuidores de uma Ciência Espiritual Primal mais elevada que a ciência material e dotados de uma Sapiência refinada e complexa sobre a Natureza,a Vida,a Morte,a Expansão da Consciência e os Ciclos Cósmico-espirituais da Existência.

3- Diwinydd --- “Teólogo”,”Estudante da Ciência Divina” ---
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Este era um Título Honorífico,que era usado sómente dentro dos Círculos de Witchcrafters e das Famílias Hereditárias Galesas.
Era um título concedido aos Altos Sacerdotes,ELDRAS("Anciãos") ou Magos que destacavam-se nos Estudos Metafísicos sobre os Deuses do Panteísmo Céltico ou Saxônico Primitivo.

Hoje,é uma Designação Especializada da Bruxaria Galesa,que define um Sacerdote Oficiante iniciado nos Mistérios Gwyddônicos,que estuda a Divindade em seus aspectos Teofânicos,Teocosmosóficos e Teúrgicos.

A-Etimologia:

A Palavra “Diwinydd” proveio dos vocábulos címricos Diw- (“Divino”,”Teo-“)e Duw- (“Deus”,”Deidade”), utilizadas para nomear os Deuses da Mitologia Galesa descritos no Mabinogion,nas Canções dos Bardos e nas Lendas do Folclore Popular.

Diw- e Duw- originaram-se no Proto-indo-europeu Deiwos (“Deus”, ”Divindade”), uma antiqüíssima Raiz da Linguagem Religiosa dos Povos Indo-europeus,cujos registros mais antigos datados até agora estão entre 12.000-10.000 a.C. ,e que expressavam a Essência Arquétipica da Espiritualidade Pagã da Pré-história Neolítica.

A Raiz Deiwos era considerada um Som Sagrado e Hierático,que só poderia ser pronunciado nas Cerimônias Ritualísticas e na Celebração dos Mistérios.

Deiwos deu origem aos seguintes vocábulos:
1- Grego Diós/Théos/Thea;
2- Romano Latino Dius/Deo/Divus;
3- Celta Antigo Devos/Divonis/Divona;
4- Irlandês Dia/Deithe;
5- Sânscrito Deva/Devata/Dyaus;
6- Irânico Antigo Daiva/Deivai;
7- Lituânio Dievas/DIEWS;
8- Germânico Antigo Theiwas.

Todos esses vocábulos foram utilizados para Definir o Conceito de "Deus" ou "Deidades" em geral, ou para denominar alguma Deidade específica dos Panteões Pagãos.

B- História da utilização do Conceito DIWINYDD na Inglaterra:
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Os Bruxos e os Druidas Britônicos utilizavam o termo Diwinydd para designar os Altos Sacerdotes e os Mestres que possuíam Conhecimentos avançados sobre a Teologia Panteísta Pré-cristã,que era denominada em Galês Nativo de Diwinyddiaeth = ”Teologia “ ou “Ciência da Divindade”.

A Diwinyddiaeth,porém,diferenciava-se bastante dos Conhecimentos fragmentários da Mitologia e dos Saberes Camponeses possuída pelos Feiticeiros populares das Aldeias.

Ela era um CONHECIMENTO SIMBÓLICO ERUDITO E COMPLEXO,que era expresso pelos Signos Oghâmicos e visto essencialmente como uma Ciência Espiritual Superior;baseada na Cosmologia,na Astrologia,na Metafísica e na Pesquisa Clarividente das Energias Invisíveis da Natureza e do Universo.


A Diwinyddiaeth era conhecida pelos Magos de todas as Tradições,sendo denominada na Irlanda Medieval de Eolaíocht Diagacht (“Ciência da Divindade”, em Gaélico); e chamada pelos Magos de Bizâncio de Theokosmosophia (“Sabedoria Divina e Cósmica”,em Grego).

Os Teólogos Diwinýddicos eram vistos na Idade Média como os continuadores dos Antigos Teósofos da Escola Eclética Alexandrina de Ammonio Saccas,o fundador da Palavra Theosophia(“Sabedoria da Divindade”).

Ser um Diwinydd,um Teólogo,era um grande ponto de Honra para os Bruxos Tradicionais Galeses,que consideravam a Teologia Cristã Católica um amontoado de Teorias absurdas e incoerentes, uma fusão desordenada de Mitraísmo,Culto do Sol Invictus e Religiosidade Hebraica romanizada.

Os Diwinydd abominavam as Teorias Católicas sobre a "Ressureição da Carne",o Pecado Original e o Inferno Punitivo,que viam como uma verdadeira Deturpação dos Mistérios Gnósticos Originais,criados pela mente doentia de Constantinus I e seus Bispos vendidos,que tinham materializado e corrompido todos os Ensinamentos profundos e místicos de Jesus.

Durante a Perseguição Inquisitorial aos Bruxos e Magos Britânicos entre os Séculos XIV e XVI,os Diwinydd foram chamados pelos Padres Católicos de “Teólogos Heréticos Maniqueus”,pois o Vaticano considerava a sua Cosmologia muito similar aos Tratados Gnósticos Maniqueus e Neo-platonicos que difundiam-se na Europa à partir de Bizâncio e da Região dos Balcãns.

A Similaridade existente entre a Diwinyddiaeth e a Teologia Maniquéia,porém,sempre foi muito superficial.

Apesar de ambos os Sistemas falarem das Emanações da Divindade Suprema,a Teologia Diwinýddica é Não-dual e Unitarista(que vê o Espírito e a Matéria como 2 Vibrações de uma Substância Divina Primordial),enquanto que a Teologia criada pelo Filósofo Persa Mani é Dualista-negativa em seus princípios fundamentais,pois vê a Matéria como uma Substância “Negativa” e separada do Espírito.
Hoje,no alvorecer do 3º Milênio,a Cosmogonia Diwinýddica está sendo novamente restaurada pelas Famílias Hereditárias Galesas e pelos GWELEDWYR ("Videntes") engajados no Reconstrucionismo Celta do País de Gales.

A Cosmogonia da DIWINYDIAETH está sendo reconhecida,pouco à pouco,como uma autêntica Metafísica Panteísta originada nas Tradições Míticas e Xamânicas dos nossos Ancestrais Indo-europeus.

Os Novos Diwinydd que estão emergindo entre as novas gerações de Neo-celtistas,Reconstrucionistas e Paganistas seguidores da Bruxaria Galesa,estão cada vez mais redescobrindo e investigando as origens da sua ANCESTRALIDADE MÁGICA e desvelando mais uma vez os Grandes Mistérios Panteístas do Druidismo e restaurando para os tempos modernos o Culto Devocional de DANA-CERIDWENN,a Divindade Absoluta,A GRANDE ENERGIA TEOCÓSMICA,sem-fim e sem-início, onipresente na Natureza e no Cosmos,e que criou tudo o que existe.


Na 2ª Parte deste Artigo:Os Vocábulos Gwyddon (“Feiticeiro”)e Saoi (“Sábio”)
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OS RAH-YINNS ou BLUE AVIANS -------------------------------------------------------------------- Texto de Mahasat Prem Sanandar -------...